quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Corridas silenciosas?

Por Roberto Brandão (publicado no site Grande Prêmio, coluna Retrovisor)

O filme "Grand Prix", até hoje insuperável em seu gênero, inicia com a imagem de um escapamento em silêncio que, após o motor ser ligado, multiplica-se por toda a tela. O som vai num crescendo, partindo de um ruído para uma sinfonia de arrepiantes roncos. Não há quem consiga ficar alheio a estas cenas e, para os mais ligados, não há coração que não dispare. O barulho ensurdecedor e excitante é parte fundamental da emoção de uma corrida.

No entanto, vivemos uma nova realidade mundial. A consciência ambiental, o fim das reservas de petróleo e a ameaça de um aquecimento global mais cedo do que se esperava transformam rapidamente indústrias, produtos e modos de vida. Uma das recentes invenções, já em franco desenvolvimento e em fase de produção, são os automóveis movidos a eletricidade ou com células de hidrogênio, híbridos ou não.

Exceção feita aos híbridos, parece que estamos frente ao final da era do motor a combustão. Motores elétricos ou com células de hidrogênio não têm explosão. Não formam gases que necessitem de um sistema de escapamentos para dissipá-los. Assim, teoricamente, não fazem barulho.

Pode-se argumentar que furadeiras, brocas de dentista e motores dos carrinhos de autorama produzem ruídos. Mas nada próximo do som ensurdecedor dos poderosos propulsores a explosão, especialmente quando estão alinhados para uma largada. Adicione-se à provável falta de ruídos ensurdecedores a também ausência dos óleos e seus diferentes aromas, de graxa e da gasolina. Aquele ambiente místico das corridas, que costuma freqüentar nosso imaginário, tornar-se-á muito diferente do que é hoje.

Quem teve o prazer de ouvir o ronco do motor V12 da Ferrari 512 descendo o antigo retão em Interlagos, ou de lembrar o pipocar dos V8 Cosworth ao reduzirem para uma curva, ou mesmo o ensurdecedor e agudo som dos V12 Matra, dos 6 cilindros dos Opala Stock Car, do simpático ruído embaralhado dos motores dos Fusca Divisão 3, deve, neste momento, estar tentando imaginar esta corrida silenciosa. Aquele que, como tantos de nós, se orgulhava, lá pela década de 70, de reconhecer o motor que descia a reta, mesmo com os olhos vendados, lê este texto com incredulidade.

Sem estes ingredientes, só nos resta imaginar ou sentir o coração bater mais forte vendo velozes automóveis realizarem incríveis manobras e peripécias, no mais absoluto silêncio. Como reagiremos? E a emoção, sem estes ingredientes, será a mesma? Será que seremos atraídos pelo desejo de assistir alguma competição assim?

Apesar de coerente com os novos tempos, com a sustentabilidade do planeta, eu não consigo imaginar. Só sei que será muito estranho. Poderemos nos adaptar, mas será como sexo sem gemido, orgasmo sem gritos, tristeza sem choro, amor sem brilho nos olhos.

Um comentário:

geraldo veras disse...

Faço das suas as minhas palavras. Se nao toda, mas uma grande parte da alma de todo esse universo que envolve o automobilismo desaparecerá. É uma pena! Apesar de nao ser tão nescessario retirar os motores a explosao de circulaçao por motivos ambientais, ja que hoje nos possuimos etanol, biodisel que sao uma agressao muitissomo menor a mio ambiente do que os derivados de petroleo.Ja possuimos ate mesmo motores a explosao movidos a Hidrogenio que so emite agua, assim como os movidos a célula.Entao nao vejo uma nescessidade urgente do sacrificar os motore a explosao.