
Tenho saudades, por exemplo, de Fangio pilotando, dos grandes festivais, de Pelé e Coutinho tabelando... É claro que tudo isso conseguimos assistir em vídeo, ver as fotos etc. Mas, na saudade, há coisas que não se contam: sons, cheiros, olhares, silêncios.
Uma dessas saudades é Mané.
Tenho um amigo que, ao se apresentar como botafoguense, sempre segue a frase: “tive infância”. Não consigo dissociar isso de Garrincha, de suas poucas imagens e das suas muitas histórias.
E graças a essas histórias, não foram poucas as vezes que sonhei estar no Maracanã, de boca aberta na arquibancada, enquanto o Mané deixava dois ou três de bunda no chão. Tantas quantas sonhei estar numa arquibancada da Suécia quando aquele ponta estranho, todo torto, deixou atônito todo o ‘científico’ time da União Soviética para fuzilar Yashin. Sonhos tão absurdamente reais que seria capaz de dizer quanto estava gelado o Grapette que bebi no Maracanã ou o quanto me incomodava a fumaça do charuto vagabundo daquele sujeito de língua estranha sentado ao meu lado na Suécia.

Enfim, faz 25 anos que muita gente, os que viram e muitos que não viram, sente saudade. Domingo, 20 de janeiro de 2008, dia de São Sebastião. 25 anos da morte de Garrincha. Ah, que saudade...
“Se há um deus que regula o futebol, esse deus é sobretudo irônico e farsante, e Garrincha foi um de seus delegados incumbidos de zombar de tudo e de todos, nos estádios. Mas, como é também um deus cruel, tirou do estonteante Garrincha a faculdade de perceber sua condição de agente divino. Foi um pobre e pequeno mortal que ajudou um país inteiro a sublimar suas tristezas. O pior é que as tristezas voltam, e não há outro Garrincha disponível. Precisa-se de um novo, que nos alimente o sonho.”
(Carlos Drummond de Andrade)
5 comentários:
Hahaha, tenho uma filhota botafoguense roxa que assinaria embaixo do seu post. :*)
Bjbj
Gustavo você não errou.
Ver Mané Garrincha jogar era ver o próprio futebol de calção e chuteiras, desmantelando os adversários. Foi uma raríssima unanimidade nacional.
Você acertou. Eu tive infância sim. E que saudade ficou.
Pois é, eu também tenho saudades do Garrincha.
Mesmo sendo tordedor do time que tinha Jordan, um dos Joãos e que foi João justamente em uma decisão de campeonato em que o Flamengo foi lider o tempo todo. Naquele tempo vitória valia 2 pontos e o Mengo tinha que perder 5 pontos em 3 jogos para não ser campeão:
Jogo 1: Bastava ganhar para ser campeão antecipado e perdeu supreendentemente para o Bangu que não era aquele timão de Parada e Paulo Borges
Jogo 2: Bastava ganhar para ser campeão antecipado e empatou com o Vasco
Jogo 3: Bastava empatar para ser campeão. Mas o adversário era o Botafogo do Garrincha que não foi avisado de que o Flamengo tinha melhor campanha (o Botafogo disputava o campeonato carioca a ainda um monte de amistosos pelo mundo afora) e que merecia ser campeão. Resultado: Garrincha ganhou o jogo e eu ainda muito bobo tomei um porre porque ingenuanmente acreditei que melhor campanha desse chances para alguém contra o Mané.
Quem viu Mané não acredita que Ronaldinho nenhum possa ser tão genial assim. Principalmente estes que só se preocupam em aprender o passinho novo da dança da moda nas baladas.
Luca, estamos naquela idade que antigamente era dos mais velhos, pais, tios etc. Se é que você me entende...
Isso para dizer aos mais moços que acompanhei do princípio ao fim as carreiras profissionais de Garrinha e Pelé. Não faço comparações entre os dois.
E fico feliz quando lembro que já vi dois anjos que jogavam futebol.
Puxa Gustavo, fiquei realmente emocionada com tão poucas palavras... Pois Garrincha tb é um dos meu heróis apesar de nunca ter presenciado suas façanhas... Outro dia mesmo passou um doc sobre sua vida, e era tão mais digna a vida dos jogadores que jogavam pelo amor ao esporte, apesar das dificuldades do dia-a-dia, da pobreza. Não o faziam pelo dinheiro, e sim pelo amor. Nas folgas, quando não visitava suas seis filhas e antiga esposa, adivinha o que ele fazia? Jogava pelada com os amigos de infância num campo perto de sua humilde casa, mesmo na época de auge de sua fama... Isso deixa saudades do verdadeiro ídolo, daquele que faz pelo coração, e não pelo dinheiro...
Amanda Martinez www.tottalmarketing.com.br
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