segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Os subúrbios e Santos-Rio

Estava mesmo com saudades de escrever. Algo que não seja trabalho, que fique claro. E quase dois meses e meio sem pingar alguma coisa por aqui é muito tempo. Fruto da rotina do emprego e trocentas outras circunstâncias. Por conta disso, já aviso e peço desculpas pelo tamanho do texto.

Nesse tempo todo, se alguma coisa me deixou exasperado é a discussão suburbana que tomou conta da campanha para prefeito do Rio. Voto no Gabeira e declarei isso aqui assim que sua candidatura foi confirmada. E a foto que abre esse post nos mostra, Mariana e eu, em frente à Central do Brasil, no último sábado, quando fomos a uma caminhada em favor do (tomara!) futuro prefeito e que terminou com a doação de sangue do grupo em favor de quem quer precise.
Esse pequeno grupo – pouco mais de 50 pessoas – era formado por jovens e idosos, casais e solteiros, suburbanos e não-suburbanos. E aqui chegamos ao ponto.

Gabeira disse que a vereadora Lucinha tinha uma visão suburbana sobre a questão do aterro de lixo de Paciência. Será que só eu entendi que esse ‘suburbana’, nesse caso, foi usado como antônimo de cosmopolita? Partindo do princípio que não sou mais ou menos inteligente que ninguém, será que estou louco?

Não pretendo escrever um tratado sobre o conceito de suburbano, da sub urbe. Mas para mim ficou claro: não se pode ter uma visão local, limitada, restrita sobre algo que afeta toda a cidade, toda a sociedade: sub urbe, urbe e polis.

Talvez tenha escrito de maneira simples demais, simplória mesmo (e se houver filósofos, sociólogos e antropólogos de passagem por aqui, queiram corrigir e/ou acrescentar). Mas agora quero deixar de tergiversar e olhar para o Rio, para o meu Rio.

Nascido e criado em Vila Isabel (o melhor bairro do mundo!), já morei na zona sul, voltei à Vila e, hoje, estou na Tijuca. Aprendi que subúrbio, por aqui, é bairro onde passa o trem. Assim, temos os subúrbios da Central e da Leopoldina. E o resto é zona (norte, sul e oeste) e Centro.

Pois o Joaquim Ferreira dos Santos escreveu hoje no Globo sobre algo que é absolutamente real no Rio: a alma suburbana não se restringe aos bairros do subúrbio. Permeia toda a cidade. E a estamos perdendo. Coincidência ou não, hoje meu vizinho me pediu a escada emprestada. Vocês têm noção de há quantos anos algum vizinho não me pedia algo? Há quantos anos eu não peço um favorzinho qualquer a um vizinho?

De certa forma, perdemos um bom bocado dessa alma. Se você acha que não, pense sobre quantas vezes você disse ao menos um bom dia para o seu vizinho de porta (não vou nem perguntar por aquele que mora dois andares abaixo de você). Pense qual foi a última vez que você bateu um bom papo com o jornaleiro ou o padeiro. Qual foi a última vez que você ficou de papo, no botequim da esquina, com gente que você só conhece de vista porque, afinal, mora no mesmo bairro?

Então existe duas coisas a tratar: a alma suburbana carioca, que precisa existir e ser estimulada, e a visão suburbana, que nenhum de nós pode ter. Pois meus caros, para apenas começar a tentar resolver os problemas do Rio, precisamos entender que vivemos numa metrópole, em pleno século 21, e precisamos pensar soluções que estejam de acordo.

Agora, suburbano mesmo, é descontextualizar a coisa de tal maneira que tudo seja visto como preconceito. É usar e abusar dessa visão torta na campanha. Porque, assim, a cidade segue partida e mal administrada.

•••

Hoje à noite parto de viagem para São Sebastião, de onde atravessarei de balsa para Ilhabela amanhã bem cedo, de onde velejarei para Santos a bordo do Fandango. Hoje começa uma semana especial, em que estarei realizando um sonho: correr a regata Santos-Rio, a mais tradicional travessia oceânica do Brasil.

Seremos sete a bordo do barco de 31 pés (pouco mais de 10 metros de comprimento), representando a Equipe Boteco 1, patrocinados pelo SuperCarioca.com, com apoio da Arapongas Tecnologia Mecânica e em parceria com o projeto Três no Mundo.

Será a primeira de quase todo mundo e não temos a pretensão de grandes resultados. O objetivo é participar, aprender e realizar o sonho. Depois disso, vamos tentar a Recife-Fernando de Noronha do ano que vem. E, quem sabe um dia, Cidade do Cabo-Salvador.

A largada da regata será às 12h15 de sexta e vamos antes para treinar e conhecer o barco. Serão 190 milhas (pouco mais de 350km) de vento em popa, segundo as previsões para o próximo final de semana. Se forem confirmadas, nossa previsão de viagem gira entre 30 e 36 horas. Se não, Deus sabe. A intenção é estar aqui no domingo, a tempo de votar.

Torçam por nós.

3 comentários:

Elisa Maria disse...

Gusta,
Lindo post. Preciso, perfeito, emocionante. E, pela foto, vi que fui muito bem representada.
===
Santos-Rio... Estarei na torcida e, se der, vou aguardar a chegada de vocês.VQV!!! Bons ventos para vocês!!!
Beijocas
Elisa

Luca Bastos disse...

Boa sorte para vocês na Santos Rio. Nem dá para sonhar ir ter com vocês na largada. Tenho um evento de palestras o dia inteiro na 5a e 6a feira.

Quanto ao Gabeira, estando longe do Rio não posso falar muito até porque nada sei do seu adversário. Só espero que o vencedor no mínimo ponha placas indicativas no trânsito para aproveitar os postes dos pardais. Assim vou diminuir o número de vezes que me perco no Rio por falta de sinalização, um absurdo em uma cidade turística.

Anônimo disse...

Oi querido,
já estava realmente com saudades dos seus textos.
Gabeira na cabeça! Até minha enteada aparece na campanha dele, acredita?
Beijos e saudades
PS: Quando você vai conhecer a minha Marianinha e eu vou conhecer a sua?