quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Samba S/A

Fiz uma provocação no post anterior, mas ninguém deu bola. E daí? Daí que o blog é meu, escrevo o que quiser – inclusive respondo à minha própria provocação.

É claro que dizer que as escolas que não são do Rio não deviam participar do carnaval da cidade é uma enorme tolice. Se competentes, não apenas devem permanecer, mas vencer como fez a Beija-Flor, de novo, este ano. O problema é outro: o que é competência?

“Super Escolas de Samba S/A, super-alegorias escondendo gente bamba, que covardia!”. Quando, em 1982, o Bumbum paticumbum prugurundum, de Aluízio Machado e Beto Sem Braço, empurrou o Império Serrano para o seu último título, ninguém deu muita atenção à denúncia que faziam.

Império Serrano, 1982 (foto: arquivo)

E a história das super escolas e super-alegorias começou justamente na Beija-Flor, no tricampeonato conquistado entre 1976 e 1978, sob o comando de Joãozinho Trinta. Hoje, a escola de Nilópolis é bi e vencedora de cinco dos últimos seis carnavais (foi vice para a Vila Isabel em 2006). Fantástico? Sem dúvida. Alguém lembra de algum detalhe desses desfiles?

Pois o jornalista e compositor Lula Branco Martins, em artigo para o site da Coluna do Ancelmo, lançou um bom tema para se discutir: a “interessância”. A palavra não existe, mas o conceito é fácil de entender.

Vejam, quando a Imperatriz papou um monte de títulos na década de 90, dizer que tinha realizado desfiles tecnicamente perfeitos era quase uma crítica. Hoje, virou elogio. Pois me digam, se alguém é capaz, qual o interesse provocado pelo desfile da Beija-Flor? Em que a Beija-Flor foi emocionante? E esse é o meu ponto.

Por exemplo: no quesito comissão de frente, do meu ponto de vista, Mangueira (Frevo), Imperatriz (Marias) e Portela (água, na primeira parte do desfile sobre a recriação da vida) foram as mais bem contextualizadas. As três perderam muitos pontos. Qual é o critério afinal? Luxo e apenas isso?

Beija-Flor 2008 (Fotos: EFE, Ivo Gonzalez e Luis Alvarenga)

Não acredito que uma escola que pouco usa suas cores possa vencer o carnaval com tanta facilidade. A Beija-Flor quase não usou azul!!! Verdes e vermelhos em profusão... Será que no quesito conjunto, a utilização das cores da escola não é um critério de avaliação?

Não é possível que a campeã do carnaval seja definida apenas por tecnicalidades. Não acho correto que uma escola que passe quadrada, com ritmo marcado pelo metrônomo, vença outra que emocione a platéia. A questão não é acabar com a disputa, mas não trancá-la em uma caixa preta de quesitos e, principalmente, critérios aos quais apenas os jurados têm acesso e nem sempre usam. Do jeito que está, a coisa virou apenas um jogo de sete erros.

Do jeito que as coisas estão hoje, desfiles históricos (como da Caprichosos de 1985, com “E por falar em saudade” ou “Bumbum de fora pra chuchu”) pela criatividade e encantamento nem participariam do desfile das campeãs. Que dirá, disputar o título.


Caprichosos de Pilares, 1985

Enfim, é necessário criar uma maneira de fazer a interessância, essa palavra que não existe, ter algum peso nos desfiles. Ou vai perder a graça. Não porque a Beija-Flor vença todo ano, mas porque a emoção vai desaparecer, vai ficar tudo automatizado. Se um espetáculo não me emociona, não vou assisti-lo, não pagarei pra vê-lo. É preciso, antes que isso aconteça, re-pacionalizar (isso existe?) as escolas de samba.

2 comentários:

Anônimo disse...

Gustavo, demorei a postar meu comentário, mas penso que esse negócio estragou o carnaval. Hoje temos várias escolas de samba que não são cariocas e são subsidiadas para competir por aqui e somos privados de assistir escolas como Imprério Serrano, União da Ilha e Estácio de Sá.

Por mim criávamos mais um dia de desfile para as escolas fluminenses. Poderia ser a terça-feira. Nesse dia desfilariam Beija-Flor, Porto da Pedra, Viradouro, Grande Rio e outras como Unidos da Ponte, Acadêmicos do Cubango, Leões de Nova Iguaçu, unidos do Cabuçu etc. Teríamos 3 dias de desfile. Elegeríamos a campeã carioca, a campeã fluminense e a super-campeã. A saída dessas quatro escolas abriria espaço novamnete para curtirmos escolas representantes de verdadeiros celeiros de bambas como Império, Ilha, Estácio etc.

Não sou bairrista, só sinto saudades do velho e bom desfile das escolas de samba.

Anônimo disse...

Outra coisa que me incomoda é aquela transmissão da Rede Globo. Ficamos a maior parte do tempo assistindo às comissões de frente e depois vemos uma amostra corrida do restante da escola. Não se mostra mais detalhes das alas. Aliás várias alas e alegorias são ignoradas na transmissão.

Prefiro a transmissão da Band no desfile das campeãs. É muito melhor, apesar do Datena!